Conto que narra um dia na vida de Alfredo, dito Gaivota:
«Porque me chamam Gaivota?
Está mesmo a ver-se…tenho passado entre os barcos e o Tejo,
em cima deste paredão [Cacilhas], correndo e escorregando nestas pedras húmidas,
mais de metade da minha vida: às vezes,
até a pele me sabe a sal.» (p. 9)[1]
Alfredo é-nos apresentado como um miúdo pobre na zona de
Cacilhas. Vive ao deus-dará, fazendo de tudo um pouco, ou nada. Vive entre a raiva
da sua situação e o deslumbramento da vida que o cerca.
Apesar da narração ser de terceira pessoa, passa frequentemente
para o ponto de vista do próprio Gaivota, que nos interpela e é interpelado
pelo narrador, em que questiona as suas memórias de um tempo mais feliz.
É a época do Natal e estamos perante uma criança
desiludida, no entanto as suas reflexões produzem em nós um desejo de pensar
também sobre a vida.
No final, perante a proposta de emprego como aprendiz de
mecânico toda a felicidade perdida retorna, apesar da perda do pai em condições
que não são explicitadas, de acossado pelo padrasto e descuidado pela mãe.
COLAÇO, Maria Rosa. GAIVOTA.
Edições Nave, 1.ª ed., 1982.
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